Mundo Num Instante: A verdade por trás dos acordos de paz entre Israel, Bahrein e Emirados Árabes
EleiçõesFabio PannunzioGRADEHilightsInternacionalPolítica 16 de setembro de 2020 Milton Blay 0

Por Milton Blay, correspondente da TV DEMOCRACIA em Paris
Dias atrás recebi um artigo de um jornalista brasileiro-israelense festejando os acordos para a normalização das relações entre Emirados Árabes, Bahrein e Israel, sob a égide dos Estados Unidos.
Ele dizia: pensem o que quiserem, a verdade é que nos últimos 25 dias Trump fez mais pela paz no Oriente Médio que todos os outros presidentes americanos em décadas.
Será mesmo? vamos aos fatos:
Os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein assinaram nesta terça, dia 15 de setembro, na Casa Branca, em Washington, um acordo para normalizar relações diplomáticas com Israel, tornando-se assim o terceiro e o quarto países árabes a reconhecer o Estado judaico, junto com Egito e Jordânia.
O acordo foi mediado pelo governo de Donald Trump, que busca uma vitória na política externa para aumentar as chances de reeleição nas eleições presidenciais dos EUA em novembro.
O apoio a Israel é uma posição popular entre eleitores evangélicos.
“Estamos aqui para fazer história. Esse é um grande passo para que pessoas de todos os credos e origens possam viver juntas em paz e prosperidade. Eles vão trabalhar juntos, porque agora são amigos; disse Trump na sacada da Casa Branca, decorada com bandeiras de EUA, Israel, Emirados Árabes e Bahrein”.
Claro que a História, com H maiúsculo, se conta em diferentes versões e frequentemente os fatos não correspondem à realidade.
Infelizmente é o caso.
A própria cerimônia de assinatura mostrou a dimensão do acordo.
Os Emirados Árabes e Bahrein estiveram representados por seus chanceleres e não por seus dirigentes de fato, Zayed Bin Sultan Al Nahyan e o Rei Hamad bin Isa al-Khalifa, do Bahrein.
A única personalidade de primeiro plano presente era o primeiro-ministro israelense Benyamin Netanyahu, no papel de fantoche de Donald Trump, seu amigo.
O toque de ironia veio do coronavirus, na medida em que não pode haver o simbólico aperto de mãos.
https://drive.google.com/file/d/1vdSMGyVvEm2wQaYSfhrpjg_xEifngVEj/view?usp=sharing
A segunda razão que explica a relativa desimportância do acordo é o fato de que Bahrein e Emirados são países do Golfo sem peso geopolítico.
Quem conta de fato é a Arábia Saudita, verdadeira força regional, que apesar de sofrer pressão de Washington para reconhecer Israel, tem resistido, dizendo “não estar pronta” para adotar a medida.
O que é uma meia-verdade. O príncipe saudita já disse tempos atrás que Israel tinha o direito de viver em paz com seus vizinhos árabes. E como se não bastasse, os sauditas permitiram que o voo que levava a delegação de Israel aos Emirados Árabes para negociações passasse pelo espaço aéreo do país.
Foi a primeira vez na história que uma aeronave israelense sobrevoou a Arábia Saudita.
A resistência da monarquia a reconhecer Israel deve-se ao seu papel como sede das cidades sagradas do Islã, sobretudo a Meca. O mundo muçulmano ainda não está pronto para reconhecer oficialmente Israel, em razão sobretudo da luta fraticida entre xiitas e sunitas.
Assim, como disse Zaha Hassan, especialista do Fundo Carnegie para a Paz Internacional: “O Bahrein foi um prêmio de consolação oferecido aos EUA pela Arábia Saudita.
A terceira razão que não nos leva a festejar o acordo é que ele não traz necessariamente a paz. Pelo contrário.
O Irã classificou a assinatura dos acordos como uma “grande traição das causas palestina e islâmica”.
O tratado tem como pano de fundo, a rivalidade entre a Arábia Saudita e o Irã, que travam guerras por procuração com Israel, na Síria e com a coalizão de países árabes liderados pelos sauditas no Iêmen.
Foi altamente simbólico o ataque com mísseis lançados pelo Hamas contra o norte de Israel no momento da assinatura dos acordos. Tanto o Hamas, na Faixa de Gaza, como o Hezbollah, no Líbano, são financiados por Teerã.
Além dos persas, saem perdendo os palestinos, cujo tratamento por parte de Israel sempre foi um obstáculo na relação com países do Oriente Médio.
A única concessão que Netanyahu ofereceu ao anunciar o tratado com os Emirados Árabes foi suspender os planos de anexação de territórios palestinos, sem contudo abandoná-los por completo.
Já o acordo com o Bahrein não teve nenhuma contrapartida relacionada à Palestina.
Até pouco tempo, o consenso na região era de que relações diplomáticas com Israel só seriam estabelecidas após a criação de um Estado palestino.
Trump disse à TV Fox News que o acordo vai forçar os palestinos a negociarem, pois, caso contrário, serão “deixados de lado”. Oras, os palestinos já foram deixados de lado há muito tempo, tanto pelo governo israelense quanto pelos países árabes.
O acordo não trará mais paz tampouco para Israel, mesmo porque Bahrein e Emirados não estavam mais em guerra contra Tel Aviv.
Ontem, a prefeitura de Tel Aviv projetou em sua fachada a palavra “paz” em hebraico, árabe e inglês: shalom, salam, peace.
https://twitter.com/i/status/1305909007887077379
Enquanto isso, na Faixa de Gaza os palestinos entoavam palavras de ordem como “a Palestina não está à venda”. O problema é que ninguém quer comprar.
Aqui, a música abre espaço para a paz. A West-Eastern Divan Orchestra que interpreta o Triplo concerto de Beethoven, foi formada com músicos palestinos e israelenses, que dialogam em acordes. Yo-Yo Ma, Anne Sophie Mutter e Daniel Barenboim são os solistas.
https://drive.google.com/file/d/18J8jSdrnX4iYxjKwIXpxtLJPYk4cdA_y/view?usp=sharing
- Mundo Num Instante:A verdade por trás dos acordos de paz entre Israel, Bahrein e Emirados Árabes - 16 de setembro de 2020
- Mundo Num Instante: A extrema-direita e a pandemia do coronavírus na Alemanha - 9 de setembro de 2020
- Mundo Num Instante:Os efeitos da prisão de Steve Bannon na extrema-direita - 24 de agosto de 2020
- Fabio Pannunzio em Camiseta #somos70porcento Mãos Solidárias
- GUSTAVO S C GUEDES em Camiseta #somos70porcento Mãos Solidárias
- Fabio Pannunzio em Fábio Pannunzio confessa: “Eu também já fui crente um dia!”
- Fabio Pannunzio em Fábio Pannunzio confessa: “Eu também já fui crente um dia!”
- Fabio Pannunzio em Fábio Pannunzio confessa: “Eu também já fui crente um dia!”
Nenhum comentário ainda. Comente!
Be first to leave comment below.